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Diversos formatos,
diversas audiências

A segmentação das transmissões de futebol é um fato, porém, menos catastrófico e mais agregador do que se imaginava. Por meio de uma análise mais detalhada, é possível entender que, mesmo diante do crescimento dos formatos voltados para a internet, os torcedores de certo modo ainda são apegados e consomem o esporte pelos meios tradicionais. Em outras palavras, assim como a TV não matou o rádio, a tendência é que a internet também não mate a TV.

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Nem tão concorrentes assim...

“A gente tem que pensar também nas pessoas que não têm acesso à internet. O Brasil é um país muito muito desigual. Então, hoje, enquanto a gente fica discutindo quem tem ou não Netflix, existem pessoas que só têm a TV aberta”, opina Renato Peters, repórter do Globo Esporte. “Só tem TV aberta ou tem internet precária. Tem gente numa casa que tem um celular para todo mundo. A gente precisa pensar nisso também. E a internet vem também para democratizar. É uma coisa que está nascendo, a gente precisa acompanhar, mas eu não vejo uma ameaça, acho que tem espaço para todo mundo”.

 

Não só há espaço, como também uma relação de parceria entre plataformas, conforme explica Antonio Forjaz: "Há sempre uma conversa, há sempre uma troca. Muitas vezes uma divisão de custo da propriedade esportiva”.

Há competição, mas é aquilo que a gente chama de ‘frenemies’ [amigos inimigos, em tradução para o português]. Ou seja, para a negociação dos direitos esportivos a gente acaba por ter que negociar com parceiros, seja de TV aberta ou de TV paga.

Antonio Forjaz, contry manager de Amazon Prime Video Brasil

A exibição da Copa do Brasil na última temporada ilustra a relação de frenemies. Em 2021, Globo e Prime Video fecharam um acordo de sublicenciamento para transmissão das partidas do campeonato em 2022 na internet: 36 jogos da competição foram exibidos na plataforma, sendo 30 com exclusividade do Prime. 

 

O acordo fez com que a emissora carioca desbancasse o próprio serviço de streaming, o Globoplay, em favor da parceria com a Amazon. Contudo, o modelo permitiu que a Globo arcasse com a despesa anual de R$ 300 milhões que mantém com

a CBF pela Copa do Brasil, e foi renovado para as próximas temporadas, entre 2023 e 2026.

Perfis das audiências

Não só as plataformas dividiram direitos, como também o público dividiu-se entre os diferentes meios de exibição das partidas de futebol. Hoje, o brasileiro consome futebol de várias maneiras, sem abrir mão dos tradicionais rádio e TV, mas aberto

aos novos formatos disponíveis na internet. Inaugura-se a era de futebol multiplataforma.

 

Dados da pesquisa Sport Track 2022 mostram que a TV aberta, ou linear, ainda é o modelo mais popular para o consumo de futebol: 65% dos torcedores dão prioridade aos canais gratuitos para assistir e se informar sobre as partidas. Os canais

a cabo vêm logo em seguida, sendo preferido de 46% dos respondentes. Rádio e o streaming dividem a terceira colocação

no ranking, ambos com 25%. 

 

Além da preferência geral, a televisão linear também tem dado mais espaço ao esporte. Se engana quem pensa que o modelo está saindo de moda: em 2021, 11% das grades de programação da TV linear foram dedicadas aos esportes, impulsionado pelos Jogos Olímpicos de Tóquio – exibidos em 2021 por conta das restrições da pandemia em 2020. 

 

Em 2022, foi a vez da Copa do Mundo provar o valor do futebol na TV aberta e superar as projeções esperadas. De acordo com dados do Kantar Ibope, todos os jogos da seleção brasileira – incluindo a fatídica queda diante da Croácia – estiveram na casa dos 50 pontos de audiência, aumento de 400% em relação aos índices registrados pela Globo com sua programação vespertina. 

 

Andreza Araújo – jovem torcedora que mesmo com facilidade de acesso aos streamings ainda é fã de um bom jogo na TV – acredita que é a popularidade da televisão é como um elo que une o torcedor ao seu time do coração: “A TV aberta é popular, todo mundo tem acesso. Seja na Globo, na Record – independentemente do prestígio do canal –, a TV aberta possibilita que as pessoas vejam. [O campeonato] estar lá, amplia o número de pessoas que acompanham os jogos e não afasta o torcedor, que já está muito afastado do estádio por questão de preço, locomoção, etc”. 

 

O jornalista Gabriel Vaquer explica que a percepção de que, tanto o futebol quanto outros programas populares, têm perdido espaço na TV se deve às mudanças do jeito de consumir entretenimento nos últimos anos. Atualmente, nem mesmo as novelas registram os mesmos índices de audiência do passado, o que não quer dizer que tenham fracassado. 

 

Com a ampliação do sinal de internet, familiaridade do brasileiro com o celular e a smartv, o espectador hoje sabe que pode até acompanhar seus programas de forma mais completa se usar outros meios, e assim amplia a audiência geral do produto, usando mais de um canal de consumo. Ganho do lado de lá e cá da tela.

 

O levantamento da Sport Track destaca ainda o crescimento de 30% do interesse dos torcedores pelo esporte ao vivo nas plataformas de streaming: 34% declararam ter assinado algum novo serviço entre 2021 e 2022. Os dados se confirmam através do crescimento de diferentes serviços de streaming: segundo o relatório Convocados, da XP Investimentos,

as plataformas que ganharam novos assinantes no Brasil foram Globoplay, HBO Max e Star+. Todos contam com, ao menos, um campeonato disponível em seus catálogos.

 

Foi justamente para não perder nada da cobertura do Corinthians e de campeonatos internacionais que Gabriel Camara resolveu investir e assinar streamings: “Eu tenho preferência de narradores e no streaming eu consigo mudar [de transmissão]. Já na televisão, não. Se eu não tenho um canal fechado, por exemplo, que tem outros narradores, tenho que ficar só com o que está na TV aberta mesmo. Então, essa é a qualidade do streaming para mim: consigo ter mais variedade de jogos, narradores, imagens. Faz diferença”.

 

A televisão continua popular, o streaming vem crescendo, mas e o rádio? Esse também é mais um canal que complementa a vida do torcedor, e em todas as faixas etárias. A pesquisa Inside Radio, do Kantar Ibope, apontou que o gosto pelo rádio cresceu, sendo mais popular entre pessoas de 30 a 39 anos. 40% dos ouvintes se dedicam a ouvir futebol pela emoção que

a locução desperta.

 

Leonardo Dahi, repórter da rádio CBN São Paulo, detalha que o perfil do ouvinte engloba tanto pessoas mais velhas, acostumadas, por exemplo, às locuções de Oscar Ulisses desde os anos 1970, como ouvintes mais jovens, em busca de novos recursos para acompanhar seus times.

 

“Tem gente que cresceu e viveu numa época em que futebol era ou no estádio ou no rádio, com um jogo por semana na televisão, tem esse hábito até hoje. Mas também tem um perfil de ouvinte muito jovem, que escuta a gente parte porque aprendeu com os pais a ouvir rádio e parte porque gosta da transmissão, do estilo, da emoção que o rádio passa”, diz

o jornalista. “Se o cara liga a TV e o jogo não está passando lá, ele vai para o rádio. A gente recebe muito ouvinte chegando também por conta dessa nova dinâmica do mercado”. 

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Dados: Inside Video 2022 e Inside Radio 2022/Kantar Ibope; Sport Track 2021

Arte: Catarina Barbosa

Profissionais de mídia e imprensa esportiva discutem como a produção das transmissões têm mudado, as perspectivas de futuro e quais ferramenta têm usado para atrair a atenção do espectador.

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